A Primeira Viagem Missionária
A Preparação para a Obra Missionária
At 13.1-3
Nesta quinta parte do livro de Atos encontramos a Igreja se expandindo ainda mais em suas fronteiras, atravessando os mares e alcançando cidades e regiões próximas à Palestina. Em At 12.25 vimos que Saulo e Barnabé regressaram de Jerusalém para Antioquia, a qual havia se tornado a “base” missionária.
Nestes três versículos encontramos Saulo e Barnabé sendo separados dos demais líderes da Igreja de Antioquia por ordem do Espírito Santo a fim de partirem para outras regiões levando o Evangelho. Temos muito que aprender nestes três versículos sobre A preparação para a obra missionária.
Sou especialmente grato a Deus pela nossa Igreja por ela ser “uma Igreja missionária”, pois, investe em Missões de forma generosa e comprometida. Mas, ainda espero ver o dia que todo esse nosso esforço e empenho seja usado por Deus para levantar entre nós irmãos que responderão ao chamado de Deus para irem à seara do Senhor levar o Santo Evangelho de Cristo.
A preparação para a obra missionária deve obedecer a alguns critérios dos quais encontramos pelo menos três nestes versículos.
1) O critério da experiência, v.1
Exposição v.1: “Havia na igreja de Antioquia profetas e mestres: Barnabé, Simeão, por sobrenome Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, colaço de Herodes, o tetrarca, e Saulo”.
A Igreja de Cristo estava em Antioquia. Já não existia mais somente a Igreja de Jerusalém. Assim a Igreja de Cristo estava começando a se espalhar para outras nações.
Eis os nomes dos profetas e mestres da Igreja de Antioquia: Barnabé, a quem Lucas vem descrevendo seus atos desde o At 4.36,37. Simeão Níger (o negro). Há quem diga que ele é o Simão Cirineu que ajudou Cristo a carregar a cruz, mas, tal afirmação carece de mais consistência. O terceiro nome é Lúcio de Cirene que assim como Simeão Níger, era também da África, e este é o mesmo a quem Paulo enviou saudações estando em Roma (Rm 16.21). O próximo da lista é Manaém, que aqui é descrito como “colaço de Herodes”, isto é, era irmão de criação de Herodes Agripa que foi morto por Deus de forma dramática (At 12.23) conhecido como o tetrarca (rei de quatro reinos), pois, reinava sobre a Pereia, Samaria, Galileia e Judeia. Provavelmente foi ele quem ofereceu informações sobre Herodes a Lucas. O último da lista é Saulo de quem Lucas nada mais diz aqui neste versículo.
Os cincos irmãos alistados aqui são classificados como “profetas e mestres”, mas, não sabemos quem deles era profeta e quem era mestre. Não parece correto afirmar que “profetas e mestres” sejam duas características de um mesmo ofício. O correto é afirmar que são dois ofícios diferentes, porém, relacionados à Palavra, podendo uma só pessoa ter os dois ofícios. Enquanto o mestre ensinava de forma sistemática as Escrituras às pessoas, o profeta proclamava com poder e vigor a mensagem recebida de Deus.
O que nos importa aqui é ver que eles eram homens experimentados. E este critério deve ser observado naqueles que se apresentam para a Obra Missionária. Nada pode ser mais desastroso para uma frente missionária que um missionário inexperiente, que não tem conhecimento bíblico e teológico suficiente para proclamar o Evangelho com a autoridade de um profeta.
Aplicação v.1: Se você tem o chamado para a Obra Missionária você precisa ser experiente e experimentado na Palavra. O que o campo missionário mais precisa não é de seus talentos e habilidades, mas, sim, da Palavra de Deus e você precisa ter o conhecimento de um mestre e a autoridade de um profeta.
Outro critério que deve ser observado é
2) O critério da consagração, v.2
Exposição v.2: “E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado”.
A consagração desses homens era vista de todos, pois, “servindo eles ao Senhor e jejuando…”. O serviço que eles prestavam aqui era a adoração a Deus. O termo que aparece no grego aqui é o mesmo para a nossa palavra “liturgia”, o que indica um ato de adoração e de oração. Este termo era empregado para descrever a função dos sacerdotes que “serviam” a Deus conduzindo o povo na adoração e intercedendo junto a Deus pelo povo. Se pensarmos na oração como um ato de interceder então está correto pensarmos que eles se dedicavam à oração. Além disso, vale lembrar que na escolha dos diáconos em At 6, os apóstolos delimitaram o seu campo de ação à pregação e à oração.
Mas, o que nos importa aqui é saber que eles eram consagrados a Deus. Viviam em constante dedicação às coisas de Deus. Aqui eles combinaram duas práticas muito importantes geralmente utilizadas em ocasiões muito especiais: a oração e o jejum. Mas, não foi só a liderança que estava em oração e jejum. Veremos no v.3 que toda a igreja estava envolvida nessa consagração.
Neste momento de intensa consagração, o Espírito Santo lhes revelou a Sua soberana vontade e ordenou que Barnabé e Saulo fossem separados e marcados “para a obra a que os tenho chamado”. A oração e o jejum serviram para que eles compreendessem a vontade de Deus. É através de uma vida consagrada a Deus que entendemos a Sua vontade para nós.
Aplicação v.2: se você tem vontade de se dedicar à Obra Missionária então saiba que sem consagração você não conseguirá desempenhar o seu chamado. Uma das coisas que o Campo Missionário mais precisa ver em seus missionários é a consagração destes a Deus. As pessoas têm de ver em você um desejo tão intenso de agradar a Deus, de vê-Lo exaltado entre as pessoas, de ser para eles o que Ele é para você, mas, para isso elas precisarão ver e você uma consagração a Deus de forma tal que não reste dúvida de que Ele é o seu maior tesouro, a sua maior alegria, e que seu coração não pertence a ninguém mais, que seus olhos brilham quando você fala de Deus, que seus pés são velozes para anunciar as Boas Novas.
Por fim, o outro critério que deve ser observado é:
3) O critério da concordância, v.3
Exposição v.3: “Então, jejuando, e orando, e impondo sobre eles as mãos, os despediram”.
Como já dissemos, não só os profetas e mestres estavam em jejum e oração ali, mas, toda Igreja estava envolvida neste processo. Os demais profetas e mestres “impondo sobre eles as mãos, os despediram”, ou seja, ao imporem as mãos sobre Barnabé e Saulo eles estavam ordenando-os à Obra Missionária. Demonstraram assim obediência ao Espírito Santo, e toda a Igreja também concordou com eles.
Um fato muito importante aqui é que Barnabé e Saulo foram mandados para a Igreja de Antioquia para fortalece-la na Palavra (At 11.22,25 e 26), e, agora, sob a autoridade dessa Igreja que se tornou uma das bases missionárias da Igreja de Cristo naqueles tempos, eles partem para outra nações.
A submissão de todos aqui é exemplar. Toda a Igreja e sua liderança estavam submissos ao Espirito Santo; Barnabé e Saulo em momento algum se voltaram com arrogância para a Igreja, mas, em vez disso, se submeteram à autoridade da Igreja. Em todos os aspectos o clima de concordância aqui foi fundamental.
Aqueles que se sentem chamados para a Obra Missionária devem conquistar o reconhecimento e a concordância da Igreja da qual são membros. O reconhecimento e a anuência da Igreja com relação ao chamado de um de seus membros para o ministério da Palavra de Deus deve ser um critério rigorosamente observado. Uma Igreja consagrada a Deus entenderá a vontade Dele em todos os aspectos da sua caminhada. E por isso mesmo, os aspirantes ao ministério da pregação da Palavra devem se submeter humildemente à autoridade da Igreja.
Aplicação v.3: Você que se sente chamado por Deus para a Obra Missionária ou pastoral, tem de sua Igreja essa concordância? A sua Igreja o vê como alguém que realmente foi chamado por Deus? É muito importante essa concordância porque o instrumento que Deus utilizará para manter você lá no Campo Missionário via de regra é a Sua Igreja. Mesmo aqueles que se intitulam “fazedores de tendas” (que levantam sustento próprio com alguma profissão) precisam da anuência da Igreja porque a tarefa da evangelização e discipulado ainda que seja feita por indivíduos, é através da Igreja de Cristo que estes indivíduos trabalham.
Conclusão
Experiência, consagração e concordância são critérios básicos para o ministério da Palavra. Muitos inexperientes, que estão divididos em seus corações com outros amores, e que não contam com o apoio e anuência de suas igrejas, se aventuram no Campo Missionário e em pouco tempo voltam de lá com a pecha de “desertores” ou de “aventureiros”, e em vez de testemunharem da Glória de Deus acabam por desonra-Lo. Lembre-se que a proclamação do Evangelho é acima de tudo um ato de proclamar a Glória de Deus no mundo. Quem se equivocar quanto ao chamado de Deus com certeza trará desonra para Ele.